Quinta, 28 de Agosto de 2025

Cadastro Nacional de Desaparecidos: Famílias Revivem Esperança e Buscam Respostas

Plataforma unificada promete integrar dados e facilitar a busca por pessoas desaparecidas no Brasil, aliviando a angústia de familiares.

28/08/2025 às 01:09
Por: Redação

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A dor do desaparecimento de um ente querido é uma ferida que não cicatriza. Ivanise da Silva Santos, fundadora da Associação Mães da Sé, vive essa angústia há quase 30 anos, desde o desaparecimento de sua filha Fabiana, aos 13 anos, em 1995.

Nesta quarta-feira (27), uma notícia reacendeu a esperança de Ivanise e de tantas outras famílias: a criação, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, uma plataforma que integrará diferentes bases de dados.

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O endereço do cadastro é: https://cnpd.mj.gov.br/painel-publico

“Hoje eu estou aqui em estado de graça porque finalmente a gente vai poder comemorar o marco inicial de uma luta que eu carrego há quase 30 anos”, disse Ivanise.

A ativista acredita que o cadastro beneficiará tanto os familiares quanto os agentes estatais.

“Eu tenho certeza que, a partir de hoje, nós juntos vamos mudar esse cenário. A incerteza, a pior dor que existe, é mil vezes pior que a morte. E eu não desejo isso para ninguém”, afirmou.

Em 2024, foram registrados 81.022 desaparecimentos no Brasil, com uma taxa de localização de 68% (55.159 casos elucidados).

Funcionalidades

Isabel Figueiredo, diretora do Sistema Único de Segurança Pública, detalhou as funcionalidades do cadastro, com destaque para o painel público com informações e fotos de pessoas desaparecidas e o cadastro restrito para órgãos de segurança pública, com dados mais detalhados e acesso a documentos.

Ela também enfatizou a importância de registrar os desaparecimentos o mais rápido possível, sem esperar as 48 horas exigidas por alguns protocolos estaduais.

“Quanto antes o Estado brasileiro e as instituições de segurança pública souberem desses casos, maior a chance que a gente tem de localizar essas pessoas e de localizar essas pessoas com vida”, considerou.

Informações dispersas

O cadastro, previsto desde 2019, chega em um momento crucial, como destacou Nicolas Olivier, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, já que as informações sobre desaparecidos estão atualmente dispersas em diferentes órgãos.

“Um cadastro unificado não é apenas uma lista de nomes. É um verdadeiro sistema de gestão de informações, capaz de cruzar dados, gerar pistas e criar um histórico confiável para apoiar tanto na busca como na prevenção do desaparecimento”, afirmou.

Mario Luiz Sarrubbo, secretário nacional de Segurança Pública, reconheceu a dívida da sociedade e do poder público com as famílias de desaparecidos.

“Precisamos conscientizar não só o poder público de norte a sul deste país, mas também a sociedade civil”.

Busca pelo Brasil

Cartaz sobre o desaparecimento de Mirian Liberato, em 1999
Cartaz sobre o desaparecimento de Mirian Liberato, em 1999 - Foto: Kátia Liberato/Arquivo Pessoal

Kátia Liberato, de Brasília, compartilha da mesma esperança. Sua mãe, Mirian, desapareceu em 1999, e a falta de dados integrados a forçou a percorrer o país em busca de informações.

“Esse cadastro unificado renova minhas esperanças”, afirma Kátia, que ainda sonha em encontrar sua mãe.